quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Disponível para amar

Passou-lhe a mão pelos cabelos. Olhou-a nos olhos, fundo... e beijou-os. Depois a face, o queixo, demorando-se na boca. O toque ainda quente na pele quase o fez estremecer, quase um ardor, quase a queimar, mas não de culpa. Talvez já de saudade. A pele, outrora rosada, começava a marmorizar e os olhos já não disparavam luz para onde quer que olhassem. O fio de sangue que lhe escorria do peito finalmente parou, e ele olhou-a com ternura. Era sempre assim... começava por amá-las, mas esta era sempre a única forma de acabar com a prisão que sentia, que o maniatava, sufocava, soterrava. 
Olhou à volta, temendo que o explosão do tiro tivesse atraído algum mirone, mas não foi o caso. Continuavam sozinhos, ele agora mais sozinho. Finalmente. 
Subiu a manga da camisa e, com a faca que normalmente trazia no tornozelo, atravessou com um traço os quatro traços verticais que a cicatriz deixava ver. Era a quinta, mas tinha-a amado como a primeira. Agora tinha acabado, e estava disponível... disponível para amar novamente!

3 comentários:

  1. Está fixe! Gosto! Na minha opinião quando fez o quinto risco, se tivesse chorado de dor, não se tinha perdido nada, mas tu é que sabes, claro que também não tens a minha sensibilidade...

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  2. Estava suspenso, algures entre a saudade e o alívio... chorar? só de alegria.

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