quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

ou visto qualquer uma delas à janela


Quando o manto da noite caiu à rua, alguém, por sua conta e risco, pegou nele e subiu ao 2º andar do antigo prédio nº 24 da Calçada de Santana. Certamente sem saber nos trabalhos em que iria meter-se, entrou e subiu ansiosamente os velhos degraus da escada, e uma vez cá em cima, com o manto devidamente dobrado e pendurado no braço esquerdo, ajeitou rapidamente o colarinho da camisa e tocou com a outra mão à campainha da porta da morte.

 A que ficou a dever-se tamanha estupidez, e como foi possível não perceber que a noite morava no andar de baixo, é difícil de responder. Era do conhecimento geral que tanto a noite como a morte habitavam aquele velho prédio de dois andares, embora até este momento, pelo que se sabe, nunca ninguém lá tenha entrado ou visto sequer qualquer uma delas à janela, mas, pela natural ordem das coisas, que até nestas questões se consegue observar, seria evidente que a morte reclamara o último andar. Teria, porventura, confundido o manto da noite com o manto da morte?

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