terça-feira, 11 de maio de 2010

Oh senhor?! Então não quer o número?

"Já não mora aí ninguém!" ouvi uma voz por trás de mim. "Já não?" devolvi enquanto me virava para a voz. "Não! Foram-se embora já faz tempo..." continuou a voz que agora tinha uma cara, uma expressão já gasta pela erosão da vida. "Por acaso não sabe para onde foram, não?!" perguntei sem esconder a desilusão que me invadia o peito. "Pois.. olhe... não sei. Diz que ele foi promovido e que teve de se mudar lá mais para o norte. E ela foi com ele, claro!". "Claro?!?" pensei... "Claro o quê? Ela prometeu-me que não iria com ele se este momento chegasse!! Ela disse-me que eu era tudo para ela, que o futuro seria feito por nós os dois, juntos... ". "Ah, ok.. pronto!" respondi, já com o olhar pregado no chão do caminho que me iria devolver ao carro. "Mas espere lá que eu acho que ele me deixou aqui um contacto qualquer... por causa do correio ou de alguma coisa que fosse preciso". O que é que eu ia fazer com o número dele? Não lhe ia ligar com certeza... quer dizer... podia ligar, disfarçava a voz ou assim. Já vi nos filmes como se faz. Usam uma toalha. Mas não... Se ela foi com ele é porque o seu caminho já não é o meu. Partilhámos a mesma alma, o mesmo suor, a mesma saliva, tantas vezes a mesma cama, mas agora já não temos nada em comum. Eu devia ter percebido. A ausência de notícias. O telefone sempre desligado. E por fim dizerem-me lá do trabalho "Ah, ela já não trabalha aqui. Posso ajudar?". Como é que podem ajudar? Desci as escadas enevoadas pelas lágrimas que me salgavam a cara e fechei a porta da rua. Ainda ouvi, lá em cima, um distante "Oh senhor?! Então não quer o número?"

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