quinta-feira, 27 de maio de 2010

Do outro lado da rua...

Não consegui evitar o comentário. Deveria vir no mundo da lua...nabo; como muitos outros que provocam o caos e a desorganização no espaço por onde circulam. Beliscam e atrofiam a vida dos outros com o seu desleixo. Abutres.
Conheço muitos como este, aliás sou um observador atento da condição humana. Consigo odiar: todos os gestos, opiniões, olhares, os contactos - consigo odiar. Consigo odiar tudo e todos: os cheiros, os risos, os tiques...os olhares, os contactos. Consigo odiar: as ruas, as lojas, os passeios, as enchentes, os olhares...e os contactos. Não sei se sempre fui assim, mas sei que sou assim. Muitas vezes sento-me onde estou, apenas para odiar tudo e todos; tal como estou a fazer ao condutor que embateu agora contra aquela senhora. Será que ele também odeia? Será que a senhora odeia? Eu odeio-os. Odeio o amor e o que ele provoca - a cegueira. Cegos. Todos são cegos. Já fui. Agora vejo e odeio. Será que aquele condutor vê?

sábado, 22 de maio de 2010

A urna das segundas oportunidades

O caixão é simples: só cabe uma pessoa. É de madeira corrida e está bem construído, um caixão para a vida, à sua medida, o suficiente para um homem solteiro. Afinal, para quê mais? Nenhum dos seus amigos tem um caixão, ninguém que ele conheça tem um caixão. Sentiu necessidade de um espaço só para si. Queria abrir-se para o mundo. Imaginava levantar a tampa da urna todas as manhãs, fingir um milagre: "afinal não estou morto!" - acima de tudo, detestava sentir-se morto. Por isso, comprou um caixão em Lisboa.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A minha seleção de renegados

Após analisar as escolhas do Professor decidi fazer a minha seleção com os jogadores que ficaram de fora, então aqui vai:
GR - Quim
Def. Dir. - Ruben Amorim
Def. Esq. - Cesar Peixoto
Def. Cen - Nunes
Def. Cen - Manuel da Costa

Aqui nos centrais existe de facto uma certa dificuldade em escolhar pois tudo o que era central foi convocado.

TRINCO - Petit
Med. Dir. - Manuel Fernandes
Med. Esq.-Maniche
Num 10 - Carlos Martins

Avançado - Nuno Gomes
Avançado - Makukula

E ainda como suplentes
Hilário, João Pereira, Ricardo Rocha, João Moutinho, Quaresma, Nuno Assis e João Tomás.


Isto só prova que estamos praticamente iguais aos brasileiros que podem fazer duas seleções competitivas.


Somos os maiores.

Ouvi do outro lado da rua alguém dizer...

Meti-me no carro, ainda afundado em lágrimas. Quem disse que um homem não chora? Arranquei, com os pneus a deixarem marcado a negro, no chão, o que me ia na alma. Não queria pensar em mais nada, queria fugir, desaparecer, mas o peso do que o destino me tinha guardado pesava-me. Enxuguei as lágrimas com as mãos e abri o porta-luvas à procura de um lenço de papel quando encontrei o envelope. Dizia "para ti", simplesmente... O coração gelou-me por completo. Era ali... era ali que estariam as justificações, os relatos, os ferros que me marcaram bem lá no fundo, para sempre. As lágrimas como que secaram, as mãos tremiam-me ainda mais, e sem perceber muito bem como, embati contra o carro que circulava à minha frente. "Merda!! Merda!! Mil vezes merda!!! Só me faltava mais esta!!" pensei enquanto abria a porta. "O senhor viu o que fez?!?" exclamou a mulher à minha frente. Se ao menos ela soubesse o que eu estava a passar, "Oh minha senhora..." gaguejei. "E ainda dizem que as mulheres é que são umas nabas ao volante!!" ouvi do outro lado da rua alguém dizer...

Oh Senhor?! Então não quer o número? - outro lado ainda

Não tive coragem. Mudei de número. Sem despedidas: sem abraços; sem beijos; sem choros; ou saudades. Simplesmente disse:
- Basta.
Apenas uma carta: "...até sempre. Beijos." escrevi sem emoção.
Deixei a carta escondida com vergonha que a encontrasses. Pode ser que um dia a encontres. Espero estar longe. Estava demasiado: próxima; envolvida; irracional. Não posso envolver-me. Tenho que seguir. Não posso perder a razão. Tu conseguiste algo que outros foram incapazes de lograr.
Tive que o seguir. Não faz perguntas, não me faz sentir culpada do uso do meu corpo. Apenas necessito de um local seguro para voltar, de algum carinho e estabilidade.
Apenas quero ir, sem complicações, sem elos. Apenas quero ir sem que o meu ritmo cardíaco aumente. Apenas quero ir sem...sem ti.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Oh senhor?! Então não quer o número? - o outro lado.

- Já não mora aí ninguém - disse-lhe eu - foram-se embora há uns tempos atrás. Ele voltou-se e olhou-me como se eu fosse um velho. Pareceu-me logo um idiota. O mais parvo de todos os parvos que já ali apareceram. Um fraco de corpo e de espírito. Um imbecil ainda maior que o marido dela... – Por acaso, não sabe para onde foram? - …este estúpido e feio homenzinho… porque razão é que esta gaja só atrai maricas destes?... - Para o Norte – menti-lhe - foram para o Norte, é o que dizem, mas é natural, com a promoção dele e tudo… - e depois, por me ter olhado daquela maneira: “E ela foi com ele, claro!”. O panisgas ainda disse qualquer coisa, não percebi bem o quê, e maniatado pela desilusão começou a arrastar-se escadas abaixo. Disse-lhe que tinha o número deles, perguntei-lhe, no gozo, se o queria, mas ele desistiu logo.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Oh senhor?! Então não quer o número?

"Já não mora aí ninguém!" ouvi uma voz por trás de mim. "Já não?" devolvi enquanto me virava para a voz. "Não! Foram-se embora já faz tempo..." continuou a voz que agora tinha uma cara, uma expressão já gasta pela erosão da vida. "Por acaso não sabe para onde foram, não?!" perguntei sem esconder a desilusão que me invadia o peito. "Pois.. olhe... não sei. Diz que ele foi promovido e que teve de se mudar lá mais para o norte. E ela foi com ele, claro!". "Claro?!?" pensei... "Claro o quê? Ela prometeu-me que não iria com ele se este momento chegasse!! Ela disse-me que eu era tudo para ela, que o futuro seria feito por nós os dois, juntos... ". "Ah, ok.. pronto!" respondi, já com o olhar pregado no chão do caminho que me iria devolver ao carro. "Mas espere lá que eu acho que ele me deixou aqui um contacto qualquer... por causa do correio ou de alguma coisa que fosse preciso". O que é que eu ia fazer com o número dele? Não lhe ia ligar com certeza... quer dizer... podia ligar, disfarçava a voz ou assim. Já vi nos filmes como se faz. Usam uma toalha. Mas não... Se ela foi com ele é porque o seu caminho já não é o meu. Partilhámos a mesma alma, o mesmo suor, a mesma saliva, tantas vezes a mesma cama, mas agora já não temos nada em comum. Eu devia ter percebido. A ausência de notícias. O telefone sempre desligado. E por fim dizerem-me lá do trabalho "Ah, ela já não trabalha aqui. Posso ajudar?". Como é que podem ajudar? Desci as escadas enevoadas pelas lágrimas que me salgavam a cara e fechei a porta da rua. Ainda ouvi, lá em cima, um distante "Oh senhor?! Então não quer o número?"

sábado, 8 de maio de 2010

Madrid

Olá amigos, ou melhor, Hola! :-)

Estou em Madrid com o meu irmão, estamos a gostar bastante de andar por cá, tanto que temos falado um com o outro e estamos a pensar não voltar. Talvez um dia mais tarde. Quando estivermos bem de vida e obtivermos sucesso absoluto em tudo o que fazemos, voltamos para um fim-de-semana em Agosto. Entretanto vamos precisar de dinheiro. E de comida. E de roupa. Será que alguém pode entrar em contacto com a minha mãe? Precisamos dela.