sexta-feira, 20 de março de 2009

Encontros (Parte XI)


Endireitou-se rapidamente no banco... "O que é que está para a aí a dizer?" devolveu já mais assustado, no limite das forças para não começar a correr pela plataforma em direcção à rua. "Isso mesmo que tu ouviste, porra! Parece que estás surdo!". Como é que era possível? Como é que podia ouvir a voz de alguém que não falava? Estava a enlouquecer! Todos aqueles anos de solidão e dedicação quase exclusiva ao trabalho tinham ajudado a queimar uns quantos fusíveis, e o resultado estava à vista. "Dei em maluco!" pensou. "Não deste nada" voltou a voz tão familiar. Demorou mais uns instantes a perceber que a voz que ouvia era a sua, mas sem conseguir entender como, as palavras não estavam a ser ditadas por si. Era como se não controlasse parte dos seus próprios pensamentos, e lhe fossem chegando palavras com a sua própria voz mas de uma origem exterior a si próprio. "Lá porque estás a ouvir vozes na tua cabeça não quer dizer que tenhas dado em maluco!!" continuou o velho.. ou a sua própria voz ditada pelo velho para dentro da sua cabeça. Estava no limite da sanidade. O susto já tinha passado a medo, medo nem sabia do quê, se de estar louco, se de estar a ouvir vozes de pessoas que não falavam, mas que eram a sua própria voz... sem esperar nem mais um segundo saltou para uma carruagem que estava a preparar-se para partir daquela plataforma, tinha que sair dali antes de colapsar... e nem olhou para trás, para o velho que, sentado no banco, sorria divertido.

2 comentários:

  1. Não estava à espera deste texto, muito bem metido, agora como é que vais sair desta, estou curioso, c'um catano. Muito bom.

    abraço
    SAF

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