terça-feira, 15 de junho de 2010

O dia

Amanhã é outro dia, pensa ele. Passa as noites acordado, assim. O corpo expatriou o descanso. O sono é sacrificado à espera aflita, a alma a horas de infindável padecimento. Sente cada segundo, todos os segundos: agulhas em brasa, cada minuto como um ferro em brasa, sádicos, a cauterizar a ansiedade do espírito triturado pela espera. Finalmente, o dia chega. Mas está exausto, está cansado demais. Não consegue levantar-se. Não consegue levantar-se e adormece. Amanhã é outro dia, pensa ele.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Determinação e força de vontade

Queria morrer e decidiu acabar com a vida. Contudo, o último acto não podia ser leviano. Uma pessoa não pode matar-se como se não se importasse com mais nada. Então e a imagem? Não queria que os outros pensassem que tinha problemas. Nada de precipitações, portanto. Bons suicídios requerem planeamento, semanas de planeamento e de ansiedade, claro, mas era assim que tinha de ser feito. Não ia desistir; não era dos que desistiam. Nunca o fez e não era logo agora que ia começar. Preferia morrer, a desistir de acabar com a vida. Simplesmente não conseguiria viver consigo próprio.